A lista acima apenas nos mostra 6 das centenas de animais em vias de extinção de todas as espécies.
Actualmente vive-se um processo de extinção em massa que está a reduzir a biodiversidade do Planeta. Apesar disso, diversas histórias de recuperação in extremis são motivo de esperança e indicam que vale a pena lutar por isso.
Declínios e Extinções
De uma forma mais ou menos rápida, o declínio de uma espécie ocorre quando nas suas populações a mortalidade excede a natalidade e a emigração excede a imigração. Se este curso se mantiver, a extinção acontece, ou seja, a espécie desaparece de parte ou da totalidade da sua área de distribuição.
Em geral, a extinção de uma espécie não acontece simultaneamente em toda a sua área de ocorrência. Começa com extinções locais isoladas, quando as condições ambientais se degradam. Frequentemente as extinções locais são desencadeadas quando, por destruição de habitat, os indivíduos desalojados não encontram habitat adequado; começam então a ocupar habitat marginal e podem reduzir a sua taxa de reprodução ou sucumbir à predação e falta de recursos. À medida que o habitat se torna mais fragmentado, a distribuição da espécie vai-se reduzindo a pequenos núcleos populacionais isolados, com reduzido contacto com outras populações da mesma espécie. Como resultado, estas pequenas populações ficam fragilizadas e com uma capacidade reduzida de resistir às alterações ambientais.
As extinções acontecem actualmente a um ritmo acelerado. Foi estimado que diariamente se extinguem cerca de 100 espécies, a maior parte delas ainda desconhecidas para a ciência. O maior número de extinções terá ocorrido apartir do século XVII, calculando-se que desde então tenham desaparecido do nosso planeta cerca de 486 espécies animais e 600 de plantas, e que outras 3565 espécies animais e 22137 de plantas estejam actualmente ameaçadas de extinção.
O Novo Mundo e a Ásia têm a maior contribuição para o actual cenário de perda de espécies, sendo a Indonésia,India, Brasil e China os países com maior número total de espécies de mamíferos e aves ameaçadas. Quanto às plantas, o seu declínio faz-se sentir sobretudo na América do Sul e Central, África Central e Ocidental e no Sudoeste Asiático.
Embora a extinção seja um processo natural, tendo-se registado ao longo dos milhões de anos da história da Terra o aparecimento e desaparecimento de inúmeras espécies, sabe-se que mais de 75% das extinções históricas foram provocadas por acção do Homem.
Recuperar espécies em risco: uma operação por passos
Na perspectiva da conservação da biodiversidade do nosso planeta, têm-se dirigido muitos esforços no sentido de controlar a extinção das espécies.
Neste processo, o primeiro passo é identificar quais as espécies que se encontram em risco de extinção, ou seja, avaliar o estatuto de ameaça das espécies. Nesta avaliação, confundir abundância com invulnerabilidade é um erro frequente; com efeito, uma espécie em declínio pode ser relativamente comum até pouco antes de se tornar rara.
Basicamente, os declínios podem ser detectados através da avaliação da tendência populacional, traduzida na variação do número de indivíduos. Mas a contracção da área de ocorrência de uma espécie é outro um sinal de potencial problema, que também evidencia um declínio.
Numa tentativa de classificar as espécies em função do seu risco de extinção, a UICN (Union International pour la Conservation de la Nature) define diferentes categorias de ameaça para as espécies, tendo em conta critérios objectivos como a taxa do seu declínio, a dimensão da sua área de distribuição e o tamanho actual da população: Criticamente Em Perigo, Em Perigo, Vulnerável. A estas categorias estão associadas diferentes probabilidades de extinção.
Nas aves, grupo particularmente bem estudado, 11% das espécies conhecidas foram classificadas como estando ameaçadas de extinção, estando 168 catalogadas como Criticamente em Perigo, 235 como Em Perigo e 704 como Vulneráveis. Prevê-se que, se não se tomarem medidas adequadas, 400 espécies de aves desaparecerão nos próximos 100 anos, das quais 200 nos próximos 20 anos e 100 nos próximos 5-10 anos.
O segundo passo a dar no sentido de evitar a extinção é identificar as causas do declínio. Para compreender quais os factores que estão a conduzir uma espécie à extinção e como estão a actuar, é fundamental ter um sólido conhecimento de base da biologia e ecologia da espécie em causa.
Os factores que levam uma espécie ao declínio podem ser de vária ordem. A alteração do habitat (perda ou degradação) é avançada como a causa dominante das extinções. A introdução de espécies é também um factor relevante: as espécies exóticas podem predar, competir ou provocar distúrbios nas espécies indígenas, calculando-se que o impacto de animais introduzidos esteja implicado em c. 40% das extinções históricas. A sobreexploração pelo homem, por exemplo através da caça ou da pesca, é outro factor frequente de declínio. A contaminação ambiental, as doenças e a consanguinidade são ainda factores importantes.
Poucos destes factores actuam isoladamente; é frequente que exerçam efeito em conjunto, quer em simultâneo quer em sequência.
Por fim, o último passo na sequência de recuperação das espécies em perigo de extinção é inverter a tendência de declínio, removendo ou neutralizando os seus agentes. Esta intervenção, se concebida como um evento experimental, tem o poder de confirmar o diagnóstico feito e de avaliar o sucesso da operação.
São vários os processos de inversão da extinção das espécies. Frequentemente, tem de se recorrer a suplementação de recursos, quer de alimento quer de locais de reprodução ou abrigo, através de uma correcta gestão do habitat. O controle das perdas populacionais directas, resultantes de sobreexploração, predação, doença ou contaminação ambiental, que subtraem indivíduos ao efectivo populacional, é também uma medida importante; este efeito consegue-se através de legislação e educação, e de erradicação e controle de predadores, de parasitas e de competidores.
Muitas situações exigem o reforço das populações, por adição de indivíduos, podendo ser usados para tal indivíduos selvagens (translocação) ou criados em cativeiro. Esse aumento do efectivo populacional pode ser efectuado para ultrapassar os riscos de a população ser demasiado pequena ou mesmo para estabelecer de novo uma população na natureza.
A experiência de recuperação de espécies ameaçadas de extinção, obtida ao longo dos anos, indica que apenas acções concertadas em locais estratégicos do globo, com grande incidência de declínios, podem inverter esta tendência global.
Os exemplos de extinções longínquas e de recuperações próximas bem sucedidas são lições que orientam os passos a dar neste futuro da conservação da Natureza.
A extinção do Dodo Raphus cucullatus é um facto irreversível. Ocorreu no século XVII, na sequência da chegada dos portugueses e holandeses às Ilhas Mascarenhas, no Pacífico. Para além da caça, a introdução de porcos e macacos, que não só competiram pelo alimento como predaram ovos e crias, teve um efeito decisivo naquela espécie de ave que, sem capacidade de vôo e nada adaptada a uma tão rápida e drástica alteração ambiental, acabou por sucumbir.
O Ibis de crista Nipponia nippon, apesar de muitos esforços desenvolvidos no sentido da sua conservação, viu a sua população decair até um máximo de 22 aves em liberdade. Extinguiu-se no Japão, tendo gerado alguma polémica a possibilidade de se congelar o último exemplar vivo, numa tentativa de salvaguardar a hipótese de vir a encontrar no futuro uma forma de recuperar a espécie.
A Grande Borboleta Azul Maculinea arion é uma atraente borboleta europeia, cujo declínio era bem conhecido há várias décadas e que atraiu o interesse e a preocupação do grande público. Várias medidas de conservação tomadas primeiro no sentido da sua recuperação falharam simplesmente por um deficiente diagnóstico do declínio, ao minorar-se a importância de uma vital relação de parasitismo que a espécie estabelece com formigas.
Um passeriforme da Nova Zelândia Petroica traversi ilustra o sucesso de um intenso programa de recuperação. Originalmente com ampla distribuição nas Ilhas Chatham, Nova Zelândia, sofreu após a colonização europeia e a introdução de predadores no século passado uma redução drástica, que foi acentuada por posterior degradação do habitat. Nos anos 70 a população total consistia em apenas 7 indivíduos, dos quais apenas 2 fêmeas adultas. Através de um minucioso programa de recuperação, que incluiu transferência para outra ilha, manipulação de ovos e criação por adopção por outra espécie de ave, resultou um notável aumento populacional, estimando-se em 1994 uma população de cerca de 155 indivíduos.